Thursday, July 05, 2012

MAP/P: Performance com António Onio




METER O DEDO NA FERIDA

SÁBADO 07 ÀS 19H






O METER O DEDO NA FERIDA é um grupo recente que se formou no centro da baixa do Porto e que visa trazer um carácter intervenccionista na cidade. Somos jovens e queremos mudar o Mundo, localidade a localidade. Liderado por mim, o METER O DEDO NA FERIDA desdobra-se em acções, performances e intervenções onde a transdisciplinariedade é uma constante e o dialogo e confronto entre diferentes partes e posições de poder na esfera social do Porto.

Sentimos que a misoginia existe livremente no Porto, tanto que é uma palavra que ninguém sabe o que quer dizer. A mulher é o objecto sagrado, o objecto reprimido, e isto são questões que se encontram em todas as gerações, e em ambos os sexos. É socialmente aceite que a mulher não tenha tantos direitos, não seja tão respeitada, não por nenhuma razão específica, somente pelo facto de as chamar-mos frágeis e fracas. Exigimos uma certa concepção de beleza , a qual todas as mulheres tem de seguir. É inadmissível que uma mulher não se depile, é fundamental a mulher ter vergonha da sua sexualidade, é compreensível que a mulher ganhe menos que o homem. Enquanto que o homem vive numa prisão de valores distorcidos de machismo, honra, uma prisão heteronormativa em que é preciso criar e fazer a manutenção constante de uma máscara, de homens fortes , com honra, vontade e força. Não se admitem falhas.

Toda a gente decidiu agora que Portugal não é mais um pais homofóbico enquanto que paneleiro continua a ser o insulto mais detestado e usado para descrever acções que saem da norma do género. A homofobia existe tão enraizada na nossa mente e na nossa sociedade que a nossa própria visão do que é ser tolerável, por exemplo, o casamento homossexual, existe dentro de uma rede de discriminação positiva, em que as coisas são aceites para “parecer bem”, como se algum dia o facto de nos abrirem a porta para a prisão do casamento heterossexual fosse suficiente. Todos os dias exite bullying agressivo nas escolas porque o medo de ser paneleiro é partilhado por todos...ninguém se admite pois fazê-lo é entregar-se aos lobos. E isto acontece TODOS OS DIAS em TODAS AS ESCOLAS de ensino básico em Portugal. Eu próprio sofri durante anos de bullying e são coisas que até agora me estão marcadas no corpo. A construção e idealização da sexualidade é reprimida, dois moldes são dados sem escolhas, nem a possibilidade de uma pessoa quere ficar no meio.

Já para não falar da nossa mancha católica gigante que nos marca na cara todos os dias. Temos conceitos existentes que funcionam em Portugal que são antiquados e bolorentos: a nossa moda dita o grupo social em que pertencemos, seja ela de grande poder económico ou fraco. Isso cria uma espécie de uniformidade de pensamento em relação à auto expressão. Devíamos ter direito a construir a nossa imagem como as entidades mutantes. O problema é que ao criar uma confusão de símbolos entramos em confronto directo contra a grande massa social, que todos os dias nos relembra que estamos mal vestidos ou desapropriados e desagradáveis para situações sociais que já nos ditam como agir. O estado gosta de criar esta mancha uniforme de pessoas, para que assim as possam controlar e manipular, mas também, de uma forma mais perversa, aceita a construção de entidades de contra corrente, que no final falham e caem por terra porque acabam por ficar na mesma prisão: são definidos.

Entre fazer parte da mancha ou fazer parte da contra corrente superficial, prefiro ficar entre um ponto ambíguo. Não sou gay, não sou hetero, não sou homem, não sou mulher, não sou rico e não sou pobre, não sou de cá e sou local, não sou drag, não sou performer, não sou nada. Sou um constante e mutável processo de descoberta e experiências que formulam formas, as quais uso para comunicar com o meu exterior. Nós somos esculturas metamórficas em constante movimento.

As nossas autobiografias caminham lado a lado do nosso corpo e marcam todas as nossas escolhas e experiências. Ao assumir isso, ao carregar orgulhosamente a minha história e tudo que aconteceu comigo, espero por-me num sítio vulnerável em que o palco serve como espaço de exposição, espero conseguir atingir a força e a libertação desse mesmo passado e a minha própria transformação num ser ambíguo e mutável, único pela sua existência

O METER O DEDO NA FERIDA visa em criar um espaço neste tempo em que os pilares mais intocáveis da sociedade são questionados e deitados ao lixo, em que o conceito de beleza e estética são questionados e mutados constantemente. Vemos beleza em tudo, queremos saber apreciá-la, para poder enchermos as pessoas de confiança e amor próprio. Agimos fora de qualquer sistema económico a não ser a economia da nossa sobrevivência. Queremos potenciar ilusões e fantasias. Queremos propor um espaço que nos possamos aperceber da uniqueness de cada indivíduo, de glorificar o nosso cabelo, dos nossos pelos públicos. Queremos tirar a vagina das mãos do poder capitalista e machista, queremos ter toda a lata do Mundo em falar do que não se deve falar. Tudo isto porque agimos com amor, e o amor é a maior força do Mundo. Queremos fazer as nossas performances e intervenções com amor, ainda que por vezes seja um amor duro e directo. Somos os próprios agentes da mudança das nossas vidas e dos espaços e mentes que nos rodeiam. Temos essa obrigação. Queremos sair dos 500 anos de paralisia e melancolia nostálgica e pós-descobrimentos em que o pais se encontra submerso, e renascer, nus e com um brilho nos olhos, segurando a nossa glória.


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