Sunday, April 27, 2014

Horto de Punhais










No surrealismo português, mais propriamente chamado abjeccionismo por causa da abjecção que a pátria inspira, Mário Cesariny e António José Forte são dois relâmpagos demorados, dois rastilhos futuríveis, dois fulgores nunca extintos que percorrem a nossa noite mental, o nosso mal, estes medonhos abismos dos costumes blandícios.
 Horto de Punhais convoca as suas vozes, mai-la de Nuno Pinto, para em palco exprimir, na úbere associação de fala e harpa – fala bradada de bardo, harpa arpoeira de sons –, o inaudito fragor em que se espelham ecos ocos, laços loucos, mortos moucos, enxergando-se por detrás, em tremeluz de tv, as figuras explicativas do desastre, a governação dos governados, o entretido povo pós-moderno que anda a precisar, comode pão para a boca, de um Ubu que lhe incendeie os miolos e que das tripas dos governantes faça condecorações.                     
Júlio Henriques

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